Alfredo Marceneiro na Voz do Operário
Em 1918, estava Alfredo com 27 anos, o novo regime da Republica ainda não está bem cimentado, há desacatos e antros de má fé, em que Alfredo não se mete, anda nos bailaricos de Campo de Ourique e de Alcântara, e como já se explicou no carnaval não falta com a sua contribuição nas cegadas. Mas toma conhecimento que na "A Voz do Operário" se reúnem pessoas de cultura acima da média, que mantém discussões quer politicas quer culturais, faz-se sócio, e é por aí que passa a ser visto com frequência. Aliada a uma predisposição para ler , foram decerto estas reuniões, muitas delas com debates poéticos, que muito contribuíram para aumentar a sua cultura geral, o que aliás se vem a verificar na sua dicção e divisão dos versos que canta, assim como na escolha e análise que faz aos poemas que escolhe, não nos podemos esquecer que Alfredo só tem a 4ª classe, tirada em 1899.
Grande fadista amigo e meu igual,
meu igual na tristeza e na amizade —
quem, porventura, com justiça, há-de
retratar-te por forma original?!
Se este retrato alguma coisa vale,
mais do que ao Afecto, devo-o à Verdade:
— Tu és, no sentimento da Saudade,
o fadista maior de Portugal.
Ente o povo sofreste, e tens do povo
toda a expressão de amor — glória suprema
de quem para o cantar nasceu talvez...
A tua alcunha «Marceneiro», eu louvo:
Vale mais que um brazão. Vale um poema.
— Vale a alma do Povo Português!
Poema de Armando Neves dedicado a Alfredo Marceneiro, publicado no jornal "Stadium" em 1941