Origens de Alfredo Marceneiro - O Sapateiro e a lavadeira de roupa
Vítor Marceneiro, 03.03.22
Imagem de sapateiro de vão de escada
Desde o século XIX e até meio do século XX, o artífice de sapateiro e/ou mestre de corte, desde que não trabalhasse para grandes lojas ou para casas senhoriais, para sobreviver, tinham que se estabelecer por conta própria, e para tal, tentar arranjar um vão de escada para alugar, era economicamente o mais viável.
Nesta época havia muitos sapateiros de escada por toda a Lisboa.
Era uma vida dura e pouco gratificante em termos económicos, pois os seus clientes era o povo mais humilde, que muitas vezes mandava reparar o calçado, e ou não o chegava a ir levantar por dificuldades financeiras, ou às vezes passado muito tempo.
A sua postura corporal para trabalhar, era sentado num pequeno banco de madeira muito baixo, e no seu próprio colo sobre um avental de couro era a sua mesa de trabalho, é de ver que sentado nesta posição tantas horas seguidas, com luz deficiente mesmo durante o dia principalmente no inverno, tinham que ter praticamente o candeeiro a petróleo sempre aceso.
Trabalhavam dias e dias a fio, só se parava ao domingo de manhã para ir à missa, a saúde tinha que ser precária e muitas deformações, problemas de coluna, da bacia, na vista, etc..
Meu Bisavô Rodrigo Duarte, já tinha esta profissão no Cadaval , quando com a minha bisavó Gertrudes da Conceição lavava roupa para fora.
Passaram no inicio grande dificuldades, até que arranjaram um local à Praça das Flores, que além do vão de escada para poder montar a pequena bancada de sapateiro, tinha uma arrecadação que mais não era que um corredor comprido e com uma largura razoável, atamancada para poderem lá viver. O corredor dava para um saguão , onde minha avó podia lavar roupa para fora, e foi neste ambiente que Alfredo nasceu e lá tiveram mais três filhos. (esse prédio já hoje não existe)
Rodrigo Duarte morre prematuramente em 1905 com uma "tísica galopante".
Meu avô viu-se assim aos 14 anos como o cabeça de casal, e esteve sempre com sua mãe até à hora da sua morte.
Meu avô Alfredo começa a trabalhar e arranja uma pequena casa na Rua da Páscoa, num pátio lá nasceram os seus filhos, e foi onde viveu os restos dos seus dias.
O jovem Alfredo (meu avô) ainda aprendeu com o pai um pouco desta arte (ver a minha ida à Feira da Ladra), ainda tive umas botas que foi ele que colocou as solas.
Foi um filho e irmão exemplar, que o adoravam, foi pai e um avô exremoso.
Vítor Marceneiro -Direitos Reservados
Lavadeiras de roupa
Marceneiro fala das suas origens