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Alfredo Marceneiro "O Patriarca do Fado"

Gerações de Marceneiro na Cesária em Alcântara

Vítor Marceneiro, 26.09.13

A Casa de Fados "A Cesária", situada na Rua Gilberto Rola em Alcântara, era   uma tasca já desde o século XIX.

Já no século XX passou a ser uma casa de "prostituição", que na época eram autorizadas, funcionava com o nome de Bar Sábá. Tinha dois andares, em baixo bebia-se e acordava-se o preço com as "meninas",  em cima havia dois quartos de curta permanência, á disposiçaõ dos interessados.

Mais tarde o seu proprietário Mário Lopes de Oliveira, aproveitando o edifício ter dois pisos,  passou para o 1º piso a parte da "prostituição"  criando para tal uma porta de entrada independente pela rua. No rés-do- chão abre uma casa típica com petiscos e onde se podia cantar o Fado com o nome "Casa  A Cesária",  a pouco e pouco começa a ter bastante afluência,  principalmente aos fins de semana, em que iam pessoas para  ouvir o Fado, e os próprios Fadistas apareciam, porque gostavam do ambiente.

Pouco tempo passado e as  casas de prostituição são proibidas e obrigadas a fechar, o proprietário que mais tarde passou a ser conhecido pelo Mário da Cesária, como tem alvará de bar, consegue licença para ampliar a casa,  o primeiro andar  é aberto, ficando como uma varanda com visão para a divisão de baixo, que passou a ser o pátio das cantigas, era uma casa muito "castiça" quer pela decoração quer pela construção , pois dava a ideia que estávamos num pátio lisboeta, passando a dar Fado todos os dias.


Imagem do interior da casa retirada de um anúncio e  ainda o painel em azulejo existente na parede da casa

          

 

Carlos Duarte uma noite na Cesária

 

Segundo a tradição, terá sido neste local, outrora uma "taverna" que Maria  Cesária, terá cantado pela última vez em 1877.

 Nos anos sessenta como já referi, passaram  pela Cesária quase todos os fadistas da época, destacando-se o meu tio Carlos Duarte, que nunca foi profissional, mas ali ía todos os dias, aos dias de semana só até cerca de meia-noite, pois no dia seguinte tinha que ir trabalhar, aos sábados e domingos as "fadistisses" iam até de madrugada, acabando muitas das vezes, em que fadistas, empregados e clientes, acabavam no cacau da ribeira, até o sol nascer. (Grandes noites, ainda tive oportunidade de viver algumas delas, com o meu pai e o meu avô, o meu tio Carlos e o meu primo Valdemar).

 

Quando fui para o serviço militar em 1967, também já era por lá e pelo Timpanas mais ao lado, que eu ía continuando a dar os primeiros passos no Fado. Nesta altura, o Mário  contrata o meu primo Valdemar Duarte, filho do meu tio Carlos Duarte (que faleceu em 1966), como gerente artístico e também para cantar.

Entretanto o meu primo Valdemar Duarte, casa-se e organiza a vida e demite-se da Cesária,  nunca mais cantou, e foi pena pois cantava muito bem, na linha que nós todos da família comungamos,  é o "ADN do Marceneiro", já tinha angariado bastantes admiradores, tenho muita pena que ele infelizmente  não  tenha   nada gravado, mas o Fado está-lhe na alma, actualmente anda a aprender a tocar guitarra.

A Casa A Cesária fechou definitivamente as portas em 1977.

Há uma realidade que é inegável, é que os "Marceneiros", estiveram sempre  com o FADO e no Fado.... E continuam

 

© Vítor Duarte Marceneiro

 

 

 Carlos Duarte na Cesária a cantar e em convívio (1964) 

 

 

Foto Valdemar Duarte a cantar na Cesária ao lado está a irmã Judite Duarte, 

também filha de Carlos Duarte (1966)

 

Foto Tirada na Cesária em 1966

Da esquerda para a direita: Vítor Duarte Marceneiro, Aida Duarte (filha de Marceneiro), Aida Duarte (sobrinha de Marceneiro, filha de seu irmão Júlio Duarte), e seu marido Carlos

  

Seguem-se mais alguns elementoa relacionados com A Cesária:

Painel de Azulejos, a fachada do edificio actualmente, um copo gravado,  

 

 

  

 

 

 

 

Alfredo Marceneiro

Canta: Nos Tempos em que Eu cantava

Letra de Fernando Teles

Música de João David Rosa "O Sapateiro"

 

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Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.

Santa Isabel -Desaparece a Freguesia de Santa Isabel

Vítor Marceneiro, 25.09.13

 

SANTA ISABEL, SE ALGUM DIA  

SEU NOME DE ERAS, FAMOSA

FOSSE ESQUECIDO AFINAL 

OUTRO MILAGRE FARIA

DE NUNCA MAIS HAVER ROSAS

NOS JARDINS DE PORTUGAL

 

 

 

 

Na realidade nas próximas eleições do dia 29, muitas freguesias irão desaparecer, mas há uma, que nunca será esquecida a JUNTA DE FREGUESIA DE SANTA ISABEL, onde nasceu, viveu, e morreu Alfredo Marceneiro, está imortalizada no lindo Fado, A Minha FREGUESIA que Alfredo Marceneiro cantou e também neste que recorda Rainha D. Isabel esposa de D. Dinis.

 

 

"TRICANA"  “TRICANA LINDA”  “ RAINHA SANTA”

 

 

 

Letra de: Henrique Rêgo

 

Não sabes Tricana linda

Porque chora quando canta

O rouxinol no choupal

É porque ele chora ainda

P´la Rainha mais Santa

Das Santas de Portugal

 

Rainha, que mais reinou

Nos corações da pobreza

Que no faustoso paço

Milagreira portuguesa

Que no seu alvo regaço

Pão em rosas transformou

 

 

 

E as lindas rosas geradas

Por um milagre fremente

Que a Santa Rainha fez

Viverão acarinhadas

Com amor eternamente

 No coração português

 

Santa Isabel, se algum dia

Seu nome de eras famosas

Fosse esquecido afinal,

Outro milagre faria

De nunca mais haver rosas

Nos jardins de Portugal.

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Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, assim como registo na Sociedade Portuguesa de Autores, sócio nº 125820, e Alfredo Marceneiro é registado como marca nacional no INIP, n.º 495150.

Alfredo Marceneiro na Voz do Operário

Vítor Marceneiro, 24.09.13

 

 

Em 1918, estava Alfredo com 27 anos,  o novo regime da Republica ainda não está bem cimentado, há desacatos e antros de má fé, em que Alfredo não se mete, anda nos bailaricos de Campo de Ourique e de Alcântara, e como já se explicou no carnaval não falta com a sua contribuição nas cegadas. Mas toma conhecimento que na  "A Voz do Operário" se reúnem pessoas de cultura acima da média, que mantém discussões quer politicas quer culturais, faz-se sócio, e é por aí que passa a ser visto com frequência. Aliada a uma   predisposição   para ler , foram decerto estas reuniões, muitas delas com debates poéticos,  que  muito contribuíram para aumentar  a sua cultura geral, o que aliás se vem a verificar na sua dicção e divisão dos versos que canta, assim como na escolha e análise que faz aos poemas que escolhe, não nos podemos esquecer que Alfredo só tem a 4ª classe, tirada em 1899. 

 

 



Grande fadista amigo e meu igual,

meu igual na tristeza e na amizade —

quem, porventura, com justiça, há-de

retratar-te por forma original?!

 

Se este retrato alguma coisa vale,

mais do que ao Afecto, devo-o à Verdade:

— Tu és, no sentimento da Saudade,

o fadista maior de Portugal.

 

Ente o povo sofreste, e tens do povo

toda a expressão de amor  — glória suprema

de quem para o cantar nasceu talvez...

 

A  tua alcunha «Marceneiro», eu louvo:

Vale mais que um brazão. Vale um poema.

                                —  Vale a alma do Povo Português!

 

 

 





Poema de Armando Neves dedicado a Alfredo Marceneiro, publicado no jornal "Stadium" em 1941

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